Há mais de um mês, todos os dias, sem descanso, a mídia toca no nome de Isabella Nardoni, morta poucos dias antes de completar seis anos de idade, ao ser jogada do 6º andar de um prédio, em São Paulo (SP), após ter sido espancada. Segundo a investigação policial, os principais suspeitos - e agora réus - são seu pai e sua madrasta.
Embora seja, de fato, um caso chocante, o que aconteceu com Isabella não foi propriamente uma novidade no Brasil. De acordo com o levantamento do Laboratório de Estudos da Criança (Lacri), do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), entre os anos de 1999 e 2007, 159.754 crianças de até 14 anos de idade sofreram agressões domésticas. Violência física responde por 49.482 casos. Ressalta-se que estes números se referem apenas às agressões denunciadas. A maior parte delas sequer chega a ser registrada.
Analisando os dados acima, algumas perguntas são inevitáveis: por que o crime cometido contra Isabella Nardoni despertou tanto interesse da mídia? Afinal: o interesse público motivou o trabalho da imprensa na cobertura do assassinato de Isabella? Ou foi a cobertura da imprensa que desencadeou o interesse da população?
O fato é que, independentemente de quem veio primeiro, ovo ou galinha, o caso é um forte chamariz de audiência. Na noite do último domingo (11/05), a exibição de uma entrevista exclusiva feita com Ana Carolina de Oliveira, mãe de Isabella, levou o programa "Fantástico", da TV Globo, a alcançar a maior audiência do ano: foram 33 pontos de média, com 43 de pico registrados no momento da entrevista. A média anual registrada no ano passado pelo programa foi de 28,2 pontos.
Na televisão, o acompanhamento do "Caso Isabella" ganha contornos de novela. Capítulo a capítulo, personagem a personagem, todos são acompanhados por dezenas de repórteres, que se apertam nas portas de delegacias, em frente à casa da família Nardoni, da família Jatobá e buscando, a todo custo, flagrar uma lágrima e ouvir uma declaração mais ácida que parta da mãe da menina.
Tomando cuidados para que não condene pessoas de antemão, como aconteceu no histórico caso da "Escola Base", a imprensa busca não especular, mas se basear única e exclusivamente no que é divulgado pela polícia, ainda que exista a eterna briga pela informação exclusiva.
Como balanço positivo, no entanto, a ampla cobertura serviu como estopim para que pipocassem matérias sobre violência infantil em diversos veículos de comunicação brasileiros. Ainda que ainda não passem de notinhas, que não chegam nem a uma pequena parte da luz dada a Isabella Nardoni, o fato pode representar ao menos uma lâmpada no escuro túnel que abriga tantos casos semelhantes, que acontecem sem que haja qualquer investigação ou mesmo uma denúncia.
Fonte: Portal Imprensa
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