Na última semana, em Campinas, aconteceu o 4° Seminário Nacional O Professor e a leitura do Jornal, promovido entre outros parceiros pela Associação de Leitura do Brasil (ALB) e Universidade Estadual de Campinas. O seminário teve como tema "A interface do jornal com outras mídias na formação básica e continuada dos professores" e conseguiu criar espaços de reflexão importante sobre o papel de diferentes meios de comunicação na escola.
Vale notar que o foco deste encontro é mesmo o professor da educação básica fato que o torna mais relevante para nós jornalistas e professores de jornalismo, pois constata que o trabalho jornalístico além de informar, também pode ser usado para educar. Que o jornal educa não resta dúvidas, é evidente que a circulação de informações promovida pelos meios de comunicação desencadeia uma circulação de saberes que estimula a educação, mas ser levado para sala de aula e ser incluído no processo de ensino-aprendizagem é um fato que reforça seu papel educativo.
A grande questão que ainda sugere muitos debates é como fazer uso deste jornal, contribuindo com os objetivos educativos, sem perder de vista que ele é um lugar em que as disputas ideológicas se materializam. Neste aspecto o seminário deu algumas pistas: não há formulas prontas para o uso de jornal em sala de aula, a escolha de como utilizá-lo passa pela experiência do professor, pela realidade do aluno e da escola e do objetivo educativo que está em jogo.
Contudo, sugiro uma regra que deveria ser tomada como um princípio do uso do jornal em sala de aula: a pluralidade de veículos durante as atividades educativas. Isto é, se não há formulas prontas também é preciso ter em mente que não há o melhor jornal a ser oferecido e o melhor para os alunos é a variedade, a possibilidade de contato com diferentes fontes, formatos e visões de mundo. Infelizmente, os programas atuais de leitura de jornal na escola, ligados a jornais específicos, acabam ocupando os espaços escolares com seus veículos e, em raras exceções, garantem essa pluralidade.
O exercício de fato da leitura e mais ainda da leitura crítica dos meios de comunicação só é possível quando o aluno confronta noticiários, compara abordagens e percebe que a escrita, muitas vezes, pode guardar a visão de mundo de quem escreve. Saber disso não diminui o fato, a notícia e nem mesmo o escritor, apenas garante ao leitor a possibilidade de compreender suas dimensões e formar sua opinião.
Logo, fazer uso do jornal em sala de aula deve significar em primeiro lugar um estimulo à pluralidade e à democracia e para isso esta prática precisa estar desvinculada dos interesses particulares das empresas jornalísticas. Formar leitor crítico e não formar leitor de "tal" jornal, este tem que ser a preocupação de quem escolhe este suporte como aliado em suas aulas.
Kátia Zanvettor é jornalista e doutoranda pelo programa de Pós-Graduação em Educação da USP. É também professora do curso de Pós-graduação em Comunicação do UniFOA
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