terça-feira, 25 de setembro de 2007

A mídia na política

A concentração dos veículos de comunicação nas mãos de um pequeno número de empresas simultaneamente concorrentes e aliadas gera discursos unilaterais, padronização informacional, ideológica e cultural e o pior, desinformação, visto que só chega ao conhecimento público o que for de interesse dos grandes conglomerados. É necessário compreender que democratizar a comunicação é garantir a todo cidadão não só o direito de acesso, mas o de produção de conteúdo dos meios, mesmo que com o auxílio ou o intermédio de um profissional de comunicação. O importante é que os diversos grupos sociais sejam ouvidos e tenham à sua disposição veículos nos quais possam expor suas idéias e ter suas necessidades específicas atendidas. Por lei, o acesso à comunicação é direito de todos. Mas a mesma lei dificulta, por exemplo, o processo de legalização e manutenção de rádios e TVs comunitárias. Os poucos que conseguem legitimar-se raramente conseguem manter-se segundo as imposições legais.
De modo geral, persiste a preocupação de que, no espaço público configurado pela mídia, a política tende a perder o seu conteúdo próprio e os partidos políticos, sua identidade como mediadores de interesses entre a sociedade e o Estado. Ao ocupar o lugar das mediações que seria próprio da política, os mídias estabeleceriam uma nova diagramação dos espaços e intercâmbios urbanos. A contaminação da política pela comunicação não se esgota no deslocamento de poder ocasional pelo monopólio tendencial do ato de publicizar ou na criação de temas/atores/cenários. A questão da adequação da política às regras e à gramática da mídia, de imediato, coloca-se no centro da análise. Ao aceitar a premissa de incorporação da comunicação como componente e momento da política contemporânea, uma vez que a mídia monopoliza tendencialmente a enunciação pública, pode-se considerar que a política para incorporar a comunicação (midiática) deve resignar-se às regras e formatações derivadas da mídia, posto que isso não só facilita sua realização, como até se torna inevitável.
Nada, portanto, é mais revelador do fato de a mídia não ser apenas um poder auxiliar, conforme pensa quem a chama de quarto poder. Pelo contrário, a mídia não só fornece os temas sobre os quais os públicos/eleitores devem pensar, colocando-os em categorias semantizadoras determinadas; como também, não age apenas como mediadora entre os poderes, mas como um dispositivo de produção do próprio poder de nomeação e, no limite, também de funcionamento da própria esfera política. Assim, parece estar havendo um consenso de que a antiga fórmula da centralidade política das comunicações foi substituída por uma proposta de centralização das comunicações na atividade política. Dessa forma, tanto no nível do intercâmbio político como no do simbólico, o funcionamento do sistema político nas democracias da sociedade moderna está sendo cada vez mais determinado pela mídia.

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