sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Jornalismo investigativo


Sou de uma geração de jornalistas que não dava muita bola para a investigação. Nossa preocupação era apurar, comentar. Deixávamos de bom grado a investigação para a polícia, para os investigadores profissionais ou amadores. Não sei se era melhor ou pior: era diferente.


De uns tempos para cá, o jornalismo dito investigativo transformou os repórteres em detetives, cheios de macetes para chegar ao fundo do poço, mantendo informantes que substituem com vantagem os tradicionais alcagüetes, uma vez que ditos informantes são políticos influentes, empresários, gente fina e por dentro dos podres da sociedade.


Verdade seja dita: alguns escândalos suntuosos foram levantados pelo jornalismo investigativo. Mas na atual crise que atravessamos, pegou de surpresa a excelente turma do jornalista-policial, que comeu respeitável mosca no caso do mensalão, denunciado por alguém de fora do esquema das redações, um deputado por sinal muito investigado pela mídia.


A dúvida é lícita: o jornalismo investigativo comeu mesmo respeitável mosca, sabendo do mensalão, sabendo de tudo, da compra de votos pelo PT para garantir votações no congresso, e não botou a boca no trombone por algum motivo obscuro; ou nada sabia de nada, o que a inocenta de qualquer manobra suspeita mas não da condição de incompetente na investigação do que é condenável nas entranhas da política e da vida pública em geral.


De qualquer modo, felicito-me por não ser um jornalista investigativo. Fico no meu canto e, tal como aquele personagem de Máximo Gorki, protesto em voz alta e me divirto em silêncio.


Carlos Heitor Cony, 80, é membro do Conselho Editorial da Folha. Romancista e cronista, Cony foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 2000.

Um comentário:

Anônimo disse...

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