quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Na grama do vizinho


O governo perdeu a batalha da CPMF. Ficou sem R$ 40 bilhões para gastar no próximo ano. Não tem outra saída. Terá de aumentar impostos e cortar despesas. A receita é aceita e prescrita por todos. Mas ninguém quer entrar com sua parte, principalmente a turma do Congresso. O que mais se ouve nos últimos dias em Brasília, nos corredores da Câmara e do Senado, é que a equipe econômica que "corte a grama do vizinho, a minha, não, é a mais bonita e maior serventia.


Por trás da resistência está, principalmente, o calendário eleitoral do próximo ano. Deputados e senadores apresentaram emendas ao Orçamento --eles podem destinar recursos para obras de seu interesse nas suas bases eleitorais-- de olho na disputa pelas prefeituras em 2008. Todo mundo quer vitaminar a sua campanha a prefeito ou a de seu correligionário. Daí que os parlamentares não querem nem ouvir falar de cortes em suas emendinhas ao Orçamento da União.


Muito provavelmente a turma do Congresso vai conseguir evitar que a tesoura do Ministério do Planejamento seja impiedosa com ela. O ministro Paulo Bernardo já havia dito que sua intenção era zerar os R$ 12 bilhões destinados às chamadas emendas de bancadas --deputados e senadores de um Estado escolhem determinada obra e destinam recursos a ela. Isso não deve prosperar. Mas algum corte haverá, não há outra saída.


O fato é que o governo está sendo obrigado a fazer algo que já deveria ter feito há muito tempo. Promover uma redução de despesas. Agora, está sendo obrigado a tomar esse caminho pressionado pela derrota imposta pela oposição na votação da CPMF. Mais uma vez, como todos em os governos que precederam o atual, medidas de contenção de gastos são tomadas por causa das circunstâncias, nunca obedecendo a um planejamento, como mandaria a boa gestão.


Pior é que tudo vem a coincidir com a mudança nos ventos internacionais. Bolsas caindo, aversão a risco crescendo, medo de desaceleração econômica nos Estados Unidos. Essa era uma bola cantada por todos. Mas a nova turma que manda na economia no governo Lula fez pouco caso dos avisos que vinham de todos os lados, inclusive de dentro da própria equipe econômica. Agora terá de enfrentar os solavancos na base reativa.


Valdo Cruz, 46, é repórter especial da Folha de São Paulo.

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